A nova era da inteligência artificial
O avanço acelerado das inteligências artificiais generativas, como ChatGPT, Perplexity e Gemini, está transformando a forma como acessamos, produzimos e consumimos informação. No entanto, essas tecnologias também impõem novos desafios à proteção de dados pessoais. Alimentadas por grandes volumes de informações coletadas da internet, essas IAs operam muitas vezes sem transparência suficiente sobre as fontes utilizadas ou os critérios adotados na curadoria de dados.
A LGPD e os riscos do uso indevido de dados
A reportagem do jornal O Globo publicada no início de 2025 mostrou que nenhuma das principais inteligências artificiais em operação no Brasil está em conformidade plena com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A legislação, em vigor desde 2020, estabelece princípios como finalidade, necessidade e transparência no uso de dados pessoais.
Foi realizada uma pesquisa pela FGV Direito Rio que apontou que algumas não cumprem os princípios básicos e mínimos, o que demanda atenção e responsabilidade no uso dessas ferramentas.
Entre os principais riscos associados às IAs estão:
– Ausência de mecanismos eficazes de consentimento por parte dos titulares dos dados;
– Falta de clareza sobre a origem dos dados utilizados no treinamento dos modelos;
– Dificuldade em identificar e remover informações pessoais eventualmente reproduzidas.
Esses riscos se agravam quando combinados com a velocidade e a abrangência com que as informações geradas por IA são disseminadas em mecanismos de busca e redes sociais.
O papel da sociedade e dos reguladores
Diante desse cenário, torna-se essencial o papel das autoridades reguladoras, como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), além de organizações civis, acadêmicas e da própria sociedade. O podcast da Agência Brasília destacou a urgência de se estabelecer uma governança sólida que regulamente o uso ético de dados por tecnologias emergentes.
Governança, nesse contexto, não se limita a criar regras, mas também envolve educar usuários, responsabilizar empresas e construir um ecossistema mais equilibrado entre inovação tecnológica e direitos individuais.
IA e o retrato de uma pessoa ou empresa
Além das questões legais envolvendo transparência e privacidade de dados, existe uma dimensão prática que já impacta diretamente indivíduos e empresas. Ainda não está claro como as IAs e plataformas definem os critérios para coletar, classificar e devolver informações aos usuários — esse processo segue, em grande parte, uma “caixa preta” sem explicações públicas.
Sua reputação, nesses sistemas, acaba sendo um recorte do que as Inteligências Artificiais encontraram sobre o seu nome e do resumo que conseguiram construir a partir desses dados. Muitas vezes, essas ferramentas citam pessoas, fazem associações ou apresentam respostas baseadas em informações públicas antigas, desatualizadas ou fora de contexto.
Esse cenário exige atenção redobrada dos titulares de dados, principalmente em uma era em que a reputação digital pode ser afetada por interações automatizadas. Quando a própria IA apresenta ao usuário um resumo sobre você, ela limita a exploração de outras fontes e concentra em si a decisão do que é relevante.
Reputação digital como escudo preventivo
Não é possível controlar o que as Inteligências Artificiais aprendem nem como elas processam as informações. Por isso, torna-se cada vez mais importante manter uma presença digital sólida e bem posicionada — tanto nos mecanismos de busca quanto diante das próprias IAs, que vêm se consolidando como novas formadoras de opinião.
Como essas ferramentas costumam buscar informações em fontes indexadas pelo Google, cuidar do que aparece nesses resultados é essencial. Muitos gostariam de saber como remover o nome do Google nem sabemos que sempre é algo viável. Nesse cenário, a melhor estratégia é gerenciar os resultados existentes, garantindo que sua imagem digital seja coerente e confiável.
Responsabilidade compartilhada
A responsabilidade pela proteção da privacidade em tempos de IA é coletiva. Empresas de tecnologia devem redobrar a transparência e o cuidado com os dados, usuários precisam conhecer e exercer seus direitos, e reguladores devem acompanhar de perto as inovações que impactam a vida digital de milhões de pessoas.
A inteligência artificial veio para ficar, mas isso não significa que a proteção da privacidade deve ser relativizada. Pelo contrário: quanto mais avançadas forem as tecnologias, mais sofisticadas precisam ser as estratégias de proteção de dados.