As bolsas de Nova York encerraram a sessão em direções opostas, refletindo a leitura cautelosa dos investidores sobre os dados mais recentes do mercado de trabalho dos Estados Unidos. Enquanto setores tradicionais pressionaram o Dow Jones e o S&P 500, as ações de tecnologia ganharam força ao longo da tarde e sustentaram o avanço do Nasdaq. O movimento ocorreu após a divulgação do relatório de empregos de novembro, que apontou geração de vagas acima do esperado, mas também mostrou aumento da taxa de desemprego.
Ao fim do pregão, o Dow Jones recuou 0,62%, aos 48.114,26 pontos. O S&P 500 caiu 0,24%, fechando em 6.800,21 pontos. Já o Nasdaq conseguiu inverter o sinal negativo visto no início do dia e avançou 0,23%, aos 23.111,46 pontos. O desempenho distinto entre os índices evidenciou a diferença de comportamento entre empresas mais sensíveis ao ciclo econômico e o setor de tecnologia, que voltou a atrair compradores.
Entre os destaques negativos da sessão, as ações da Pfizer registraram queda superior a 3%, pressionando o mercado. Papéis da UnitedHealth, uma das maiores seguradoras de saúde do país, também tiveram desempenho fraco, com recuo de cerca de 2%. Esses movimentos ajudaram a explicar a maior perda do Dow Jones em comparação com os demais índices, já que ambas as empresas têm peso relevante no indicador.
Emprego reforça cautela sobre juros
O relatório de emprego divulgado pelo Departamento do Trabalho mostrou que a economia americana criou 64 mil vagas em novembro. O número superou a expectativa de consenso, que projetava a abertura de 45 mil postos. Em outubro, segundo os dados revisados, houve fechamento de 105 mil vagas. Apesar do resultado positivo na criação de empregos, a taxa de desemprego subiu para 4,6% em novembro, ante 4,4% em setembro. O dado referente a outubro não foi informado.
A combinação desses números trouxe leituras distintas para o mercado. Por um lado, a geração de vagas acima do esperado reforçou a percepção de que o mercado de trabalho segue relativamente resiliente. Por outro, a alta do desemprego reacendeu o debate sobre o ritmo de desaceleração da economia e os próximos passos da política monetária. A série do setor privado indicou reaceleração do emprego, com média móvel trimestral de 75 mil vagas, sinalizando alguma recuperação após meses mais fracos.
“Os dados de emprego do setor privado vieram um pouco mais fortes do que o esperado para os últimos dois meses, mas a principal conclusão provavelmente será o aumento da taxa de desemprego para 4,6%, contra os 4,5% previstos”, diz o Citi, em nota. Segundo os economistas do banco, os números ainda apontam para um processo gradual de afrouxamento monetário, o que poderia abrir espaço para novos cortes de juros apenas em 2026.
A leitura do mercado é que os dados divulgados reduzem, ao menos no curto prazo, a pressão sobre o Federal Reserve para agir rapidamente. Autoridades do Fed têm manifestado preocupação com sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, mas o relatório de novembro foi visto como um alívio temporário. Isso ajuda a explicar o desempenho negativo de ações mais sensíveis aos juros, que sofreram ajustes ao longo da sessão.
Após a divulgação do payroll, as apostas em um corte de juros pelo Fed no próximo mês chegaram a subir levemente. Ainda assim, a ferramenta CME FedWatch indica baixa probabilidade de uma redução em janeiro. Atualmente, o mercado precifica cerca de 26% de chance de corte na próxima reunião, acima dos 24% observados antes dos dados, mas ainda longe de um cenário majoritário.
Para Bradley Saunders, economista da Capital Economics, outros fatores também influenciam a leitura sobre o ritmo da economia. “Embora esperemos que o crescimento do consumo das famílias tenha sido mais fraco no quarto trimestre, o impacto negativo do fim dos incentivos fiscais para veículos elétricos superestima a magnitude da desaceleração”, afirma.
No setor de tecnologia, o desempenho positivo do Nasdaq ocorreu apesar de sinais de maior cautela com avaliações elevadas. Segundo o estrategista Thierry Wizman, do Macquarie Group, investidores estão mais atentos aos preços das ações do segmento, o que ajuda a explicar o desempenho inferior do índice em relação ao S&P 500 em sessões recentes. Ainda assim, a busca por empresas com maior potencial de crescimento voltou a prevalecer no pregão, garantindo fôlego ao índice tecnológico mesmo em um ambiente de incerteza sobre juros.
Fonte: Valor Investimento
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