A Nvidia, atualmente avaliada como a empresa mais valiosa do mundo, projeta um salto significativo nas vendas para data centers no Brasil a partir de janeiro de 2026. A expectativa está diretamente ligada à entrada em vigor de uma medida provisória que zera a tributação federal sobre componentes avançados, como GPUs, essenciais para soluções de inteligência artificial. Segundo Márcio Aguiar, diretor da companhia para a América Latina, esse novo cenário regulatório deve destravar investimentos hoje represados por causa da carga tributária elevada.
“Nossa maior esperança é que o governo federal já oficialize o programa chamado Redata, que reduz os impostos nos componentes necessários para montar um data center”, afirma Aguiar, em referência ao Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center no Brasil. O texto precisa ser aprovado pelo Congresso até 2 de janeiro para que a desoneração seja efetivada.
Mudança tributária deve incentivar compra de GPUs no país
A medida provisória determina que, no início de 2026, os impostos federais incidentes sobre produtos destinados ao setor de processamento de dados passem a ter alíquota zero. A lista inclui as GPUs da Nvidia, responsáveis por quase 90% das vendas globais da companhia.
Hoje, as operações brasileiras têm peso irrelevante no balanço da empresa e se concentram sobretudo em projetos de pesquisa. Para a Nvidia, a desoneração representa a primeira oportunidade concreta de ampliar sua presença no país e atender empresas que desejam montar ou expandir data centers locais.
A mudança ocorre no momento em que a companhia busca compensar perdas no mercado chinês, após restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos para venda de chips avançados ao país asiático. Em 2024, o CEO Jensen Huang intensificou sua presença internacional e fechou acordos na Alemanha, no Reino Unido e com a Nokia, na Finlândia.
Segundo Aguiar, o Brasil está entre os próximos mercados estratégicos a receber anúncios relevantes. Ele afirma que sua equipe já iniciou tratativas para atender às novas demandas previstas com a entrada em vigor do Redata.
Corporações globais de tecnologia devem impulsionar a demanda
Os principais compradores das GPUs da Nvidia são os grandes provedores de computação em nuvem —os chamados hyperscalers— como Amazon, Microsoft, Google e Huawei. Plataformas de inteligência artificial, como Meta, OpenAI e Anthropic, também estão entre os maiores clientes.
Essas empresas têm ampliado sua atuação na América Latina, movimento que ocorre diante do limite da capacidade energética nos Estados Unidos para abrigar novos data centers. “Começamos a ver um pouco de investimentos desse nível acontecendo no México”, diz Aguiar. A proximidade geográfica e os acordos comerciais com EUA, Canadá e parte da Europa tornam o país um destino natural para essas gigantes.
Ainda assim, o executivo avalia que o Brasil reúne condições que tendem a atrair um fluxo crescente de investimentos. “Eventualmente, não vai ter como não vir para o Brasil”, afirma Aguiar, citando infraestrutura robusta, disponibilidade de energia limpa e menor custo energético. Para ele, o principal entrave atual são os altos impostos, que “inibem bastante o investimento local”.
Concorrência regional e interesse em mercados emergentes
Apesar do potencial brasileiro, países vizinhos também estão se movimentando. O anúncio da OpenAI sobre um investimento de US$ 25 bilhões na Argentina, feito em parceria com a Sur Energy, ainda não se converteu em compra de GPUs da Nvidia. De acordo com Aguiar, a empresa argentina responsável pela construção e operação dos data centers não procurou a Nvidia na América Latina.
Toda a estrutura que sustenta o ChatGPT foi desenvolvida com GPUs da Nvidia, o que impulsionou de forma acelerada a valorização da companhia desde novembro de 2022, quando o chatbot foi lançado globalmente. O GPT-4, por exemplo, foi treinado com cerca de 25 mil GPUs operando por cinco meses ininterruptos. Esses equipamentos têm preço estimado entre US$ 40 mil e US$ 50 mil por unidade.
O balanço divulgado pela empresa na quarta-feira (19) reforça o crescimento contínuo. A Nvidia projeta faturamento de US$ 65 bilhões no próximo trimestre, valor US$ 3 bilhões acima das estimativas dos analistas.
Supercomputador compacto e novos setores devem ampliar alcance da Nvidia
Para conquistar empresas de pequeno e médio porte e acelerar a adoção de IA em mercados emergentes, a Nvidia aposta no DGX Spark, apresentado como “o menor supercomputador de IA do mundo”. O equipamento é mais acessível do que os servidores tradicionais usados por grandes corporações.
Aguiar afirma que muitas empresas ainda acreditam que é necessário um parque com “10 mil GPUs” para trabalhar com IA, quando é possível começar com investimentos próximos de R$ 40 mil, dependendo do tipo de operação. A companhia também reforça que seu crescimento atual é resultado de um planejamento iniciado em 2010, quando a Nvidia redirecionou o foco do mercado de videogames para inteligência artificial.
Além dos data centers, a empresa mira setores como robótica e veículos autônomos. “Embora esse segmento seja discreto comparado a data centers, já gera quase US$ 2 bilhões por ano e deve dobrar em dois anos”, afirma o executivo. A divisão de automotiva e robótica registrou alta de 32% no intervalo de um ano.
Fonte: Folha de São Paulo
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