A criação de cavalos de elite no Brasil tem atraído atenção como um investimento estratégico de longo prazo, especialmente com a recente abertura da primeira central brasileira de coleta de sêmen equino. A Seleon Biotecnologia, especializada em melhoramento genético bovino, anunciou investimento de R$ 10 milhões para montar uma estrutura capaz de processar sêmen de até 40 garanhões.
Para Gonçalo Borges Torrealba, especialista em criação equina, esse tipo de empreendimento reforça a importância da reprodução controlada, no fortalecimento genético e na valorização patrimonial. “Essa central representa mais do que inovação: é um mecanismo para perpetuar linhagens de alto valor”, afirma.
O valor simbólico e econômico de um garanhão histórico
O mercado equino nacional também experimentou recordes recentes. No leilão Elite Ouro Preto, o garanhão Esteio de Três Corações, da raça Mangalarga Marchador, foi avaliado em R$ 102 milhões.
Parte dessa negociação ocorreu por meio da venda de 2,5% das cotas do animal, que foram adquiridas por R$ 2,55 milhões. Além disso, embriões do animal representaram mais de R$ 8 milhões em vendas, segundo os organizadores do leilão.
Gonçalo ressalta que esse tipo de negociação, de frações de propriedade, transforma o garanhão em ativo financeiro e reprodutivo: “Ao investir em cotas de um animal consagrado, quem participa garante participação nos lucros da reprodução, além de potencial valorização futura.”
Criação como legado familiar
Para Torrealba, mais do que negócios, a criação de cavalos de elite pode se tornar parte de um legado familiar. “Você não está comprando apenas um animal, está investindo em genética, em história, em continuidade. É um patrimônio que pode passar de geração em geração.”
Ele argumenta que a combinação de tradição e tecnologia, como a central de sêmen, é capaz de sustentar linhagens raras com rigor sanitário e controle genético, o que valoriza tanto o animal quanto a propriedade.
Mercado equino: dimensão econômica e social
A pecuária equina no Brasil tem relevância econômica significativa. Estimativas indicam que o setor movimenta cerca de R$ 30 bilhões por ano, empregando mais de 3 milhões de pessoas direta ou indiretamente.
Além disso, raças como o Mangalarga Marchador são centrais para esse mercado: a ABCCMM registra mais de 700 mil animais dessa raça, segundo reportagens sobre leilões recentes.
Gonçalo observa que, para muitas famílias que criam cavalos, a atividade não é apenas comercial, mas também social: “Há uma forte ligação entre apaixonados pela raça e a ideia de construir algo que perdure, seja para competição, reprodução ou para manter uma linhagem.”
Desafios e riscos no longo prazo
Apesar das oportunidades, a criação de cavalos de elite também envolve riscos. O alto custo de infraestrutura, a necessidade de manejo especializado e os riscos sanitários são barreiras para parte dos criadores.
A sustentabilidade desse legado depende de estratégias bem planejadas: “Se a criação não for vista como patrimônio, mas apenas como negócio de curto prazo, corre-se o risco de diluir valor genético. Manter um haras significa compromisso técnico, financeiro e emocional.”
Perspectivas para as próximas gerações
O especialista acredita que o futuro da criação equina no Brasil será marcado pela profissionalização e pela consolidação de ativos genéticos como parte de patrimônio familiar. Ele prevê que mais criadores adotarão modelos como o de cotas de propriedades reprodutivas, reforçando o vínculo entre linhagem, investimento e legado.
“Vejo um movimento crescente: famílias que entendem que não basta apenas competir, é preciso preservar. E a genética, junto com a tecnologia, será a base desse patrimônio para as próximas décadas.”
Sobre Gonçalo Borges Torrealba

Gonçalo Borges Torrealba, empresário e advogado carioca formado pela UERJ, iniciou a carreira no setor financeiro, com passagens pela Boreal Corretora, Banco Boreal e Libra Terminal Rio. Sua atuação no turfe ganhou força à frente do Haras TNT, onde, por mais de duas décadas, destacou-se na criação de puro-sangue e na formação de ganhadores de provas importantes na América Latina.
Em 2013, adquiriu a Three Chimneys Farm, tradicional propriedade de Kentucky dedicada à criação de puro-sangue inglês. Sob sua liderança, a fazenda consolidou-se como referência global, impulsionada por garanhões de elite, como Gun Runner, cuja performance nas pistas e como reprodutor elevou a Three Chimneys a resultados recordes. Combinando tradição e gestão estratégica, Torrealba segue comprometido em fortalecer o legado e o futuro da criação e das corridas de cavalos.
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